Erasmo: mau? Só na fama

Em tempo de ódio tomando espaço e desequilibrando relações até entre parentes, o Tremendão deu show. Gigante gentil; roqueiro família; nunca quis coroa: aceitou que o Rei fosse sempre Roberto Carlos. Preferiu ficar com o amigo. Erasmo Carlos foi amor incondicional. Sua morte nos pôs a todos, sentados à beira do caminho para aplaudi-lo. De tão admirado, já virou nome de praça no bairro da Tijuca, onde nasceu: trata-se do Largo da Segunda-Feira Erasmo Carlos, criado por decreto do prefeito Eduardo Paes. Filho único de mãe solo, em 5 de junho de 1941, veio ao mundo um cara que só conheceria o pai aos 23 anos. E nem por isto, deixaria de ter o máximo de carinho e dedicação por três filhos - inclusive um que não era do seu sangue. Aquele cuja paixão era o rock, mas a partir dos anos de 1960, se tornou ídolo do romantismo, como parceiro indissociável do rei Roberto Carlos, além de Wanderléa, sob o ritmo da Jovem Guarda - gênero musical que dominou o país e lançou sucessos e estrelas por década consolidados. Erasmo era só Esteves, mas depois dos primeiros tempos convivendo com Roberto Carlos e de ambos terem sido lançados e cuidados pelo grande agente musical da época, o também Carlos Imperial, achou por bem tornar-se igualmente Carlos. Com este codinome fez-se ídolo até internacional: entre outras muitas láureas, foi indicado ao Grammy Latino. O músico Erasmo colecionava facetas muito especiais, admiráveis e, inclusive, surpreendentes. Suas letras, às vezes, filosofavam - como em "Sou uma criança e não entendo nada". Podiam antecipar causas importantes - como a atualíssima ambientalista, que defendeu nos idos de 1978, com a música "Panorama Ecológico". O talento era inesgotável: até samba-enredo compôs para a Beija Flor em 2010. E infinito era o vanguardismo. Tanto que abriu a década de 1980, com um álbum inteiro compartilhado com outras estrelas cantando com ele, faixa a faixa, músicas de sua autoria. Nara Leão, Bethânia, Gal, Wanderléa e, claro, Roberto, entre os convidados. A façanha era inédita no Brasil. E foi, um baita sucesso! Erasmo era mesmo tremendo, aliás, Tremendão!

Erasmo: mau? Só na fama

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